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E dentro de cada um de nós há um imenso barracão.
Alguns ainda tem o privilégio de ver, da porta da frente desse ainda grande inócuo lugar, a Serra do Mar.
Alguns não vêm, nem seu próprio barracão. A estes lhe parecem invisível tamanha imensidão. Então pobres destes que não conseguem recolher as cadeiras após o espetáculo teatral que estás prestes a acontecer. Cegos de carne e osso passarão miudinhos e não marcarão a areia por onde passarem. Alguns netos lembrarão, outros não. Mas não é destes que quero me ocupar.
Quero falar de vocês que já começaram a decorar com chitas e fitas esse espaço que um dia irá sonhar. Há outros também que acabaram de deslumbrar as lajotas de calçada que levam a esse pedaço prometido de chão.
Vocês brasileiros, venezuelanos, advogados, artistas, mulatos, albinos, perfumados e maltrapilhos. Vocês que perceberam o potencial desse barracão. Vocês que já se deleitam com a festa dos excluídos, com o show dos agora lembrados com louvor. Das crianças sem sobrenome que sentarão no camarote para ver o palhaço cantar. Vocês com a certeza de uma pátria alegre, cheia de gols de placa, de música boa, de sorrisos alimentados, educados e sinceros. Vocês que um dia acreditaram e lutaram por direitos, por humanos. Vocês que acreditaram no olhar de crianças que hoje puxam carros de madeira, com o dobro de seus pesos e mais ainda um irmão. Vocês que abriram o barracão, seu próprio barracão para a esperança passar assoviando uma canção de liberdade.
Tenho orgulho do pensamento, da coragem e da beleza de suas almas. E recomendo a todos os homens que sigam essa trilha e que não sejam breves na vida. Que abram, que abram as suas cortinas. E deixem a igualdade ousar rir. Deixem seus pés descalços, pendurem os cartazes de Em Cartaz e se contaminem da possibilidade de um mundo mais justo.
BIS
BIS
As crianças dão gargalhadas na primeira fila e o palhaço chora emocionado.
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