segunda-feira, 21 de julho de 2008

A VALSA DO AMOR CEGO

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Por Aruanã Bento

Você some e aparece feito bola de chiclete não adianta que eu não quero explicação
Você aparece e some, lua cheia, lobisomem, uivando e arranhando meu portão.

Um dia após o outro, você com sorriso torto, alegando ser sua maré de azar
Me estende uma flor, diz que sou seu grande amor, ressuscita minha vontade de casar.

Estar contigo é festa, ta escrito na minha testa, já te disse isso mil vezes por que não?
As amigas não me entendem, dizem que estou carente, fazem tudo pra mudar minha opinião.

O seu nome na minha agenda, é razão pra meus poemas, que eu rasgo com vergonha de mostrar.
Repito simpatias, minhas preces todo dia, santo Antonio um dia vai me abençoar.

Por que você não fica comigo?Não me assume como sua namorada?
Não quero um amigo colorido. As cores sem o amor não valem nada.

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sexta-feira, 18 de julho de 2008

quinta-feira, 17 de julho de 2008

EM CARTAZ

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E dentro de cada um de nós há um imenso barracão.

Alguns ainda tem o privilégio de ver, da porta da frente desse ainda grande inócuo lugar, a Serra do Mar.

Alguns não vêm, nem seu próprio barracão. A estes lhe parecem invisível tamanha imensidão. Então pobres destes que não conseguem recolher as cadeiras após o espetáculo teatral que estás prestes a acontecer. Cegos de carne e osso passarão miudinhos e não marcarão a areia por onde passarem. Alguns netos lembrarão, outros não. Mas não é destes que quero me ocupar.

Quero falar de vocês que já começaram a decorar com chitas e fitas esse espaço que um dia irá sonhar. Há outros também que acabaram de deslumbrar as lajotas de calçada que levam a esse pedaço prometido de chão.

Vocês brasileiros, venezuelanos, advogados, artistas, mulatos, albinos, perfumados e maltrapilhos. Vocês que perceberam o potencial desse barracão. Vocês que já se deleitam com a festa dos excluídos, com o show dos agora lembrados com louvor. Das crianças sem sobrenome que sentarão no camarote para ver o palhaço cantar. Vocês com a certeza de uma pátria alegre, cheia de gols de placa, de música boa, de sorrisos alimentados, educados e sinceros. Vocês que um dia acreditaram e lutaram por direitos, por humanos. Vocês que acreditaram no olhar de crianças que hoje puxam carros de madeira, com o dobro de seus pesos e mais ainda um irmão. Vocês que abriram o barracão, seu próprio barracão para a esperança passar assoviando uma canção de liberdade.

Tenho orgulho do pensamento, da coragem e da beleza de suas almas. E recomendo a todos os homens que sigam essa trilha e que não sejam breves na vida. Que abram, que abram as suas cortinas. E deixem a igualdade ousar rir. Deixem seus pés descalços, pendurem os cartazes de Em Cartaz e se contaminem da possibilidade de um mundo mais justo.

BIS
BIS

As crianças dão gargalhadas na primeira fila e o palhaço chora emocionado.
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sexta-feira, 11 de julho de 2008

Fahrenheit


E carrego comigo, e sempre, alguma coisa de todos esses homens que passaram por mim. Cada um, especialíssimo ele dentro de si, me contaminou com as mil facetas presentes num homem. Às vezes me confundo na hora, tento entender sua especialidade, mas numa recordação de um outro dia, sei identificar cada um.

Uma hora um músico, um jeito único de ensaiar um canto tímido querendo que cada Sol daquela cifra presenteie aquele momento. Outrora um verso, poeta calado que treina sua repetição nunca antes apresentada. Que privilégio estar na sua primeira fila, sozinha nesse teatro repleto de talento.

Já provei também sabores: alecrim, manjericão e canela. Caçarolas me mordam. Me pega assim pelo estomago e chega direto no coração. Não dá tempo nem da cabeça racionalizar esse sabor.

Teve você também, sotaque carioca. Que em duas palavras me levou. Me fez crer em astrologia e sonhos, fez eu procurar cartomancia e novos valores. Tu homem safado, cheio de ginga, me enganou. Mas que engano? Enganaria-me 1.000 vezes, sem querer nunca mais acertar.

Lembro agora do meu melhor amigo. Tem você, meu grande melhor amigo, que me desafia dia-a-dia, me questiona, me põe de castigo, mas sempre me deixando eu ser eu. Tua confiança, teu amor sem juras, teu amor sem juros. Homem com local cativo, com vista pro mar. Carrego-te no bolso, no verso, na alma.

Tiveram os outros tantos, alguns deixaram beijos e carne, outros palavras, outros deixaram exemplos. Teve o problema, teve encenação. Pouca literatura, mais transpiração. E não me esqueço, teve também aquele que no silêncio falou, talvez o mais belo de todos eles: me confundiu. Carrego-te ainda, porque nunca falamos de nós, tu mal fala de ti. E carrego diariamente esse teu mistério, de menino se tornando homem, esperando um dia nos reencontrar pra eu me desentender com essa minha razão de entender. Quero te ver assim, cheio de si, cheio de mim, mas sem as palavras.

Agradeço a todos pela exposição única de quem vocês são pra mim, até muito mais do que são pra vocês. Porque usam a arte da conquista, conquista de amigo, ou de amante, ou talvez será apenas uma passagem, vocês usaram a arte de ser tudo isso de verdade sem saber. Eu creio, eu vi, eu senti: foi tudo verdade mesmo.

Mas admito, por fim, com a alma entregue que entre todos esses lindos e apaixonantes homens que habitam meu ser, admito que você com seu olhar certeiro, seu orgulho de homem-homem, seu respirar apaixonante, você com esse seu cheiro de
Fahrenheit, você foi meu grande primeiro amor. Amor puro e singelo. Você PAI, me encheu de amor, de coragem, de respeito, de fé e saudades. Sempre saudades.